a conexão entre uma garota e o seu primeiro cachorro
"você me entende e eu te entendo".
eu acredito que o meu primeiro amor foi aos 11 anos com o meu cachorro. não, não foi por um garoto. nossos primeiros amores nem sempre são sobre outra pessoa, eles podem ser também pela arte, por uma atividade ou por um pet. entretanto, eu acredito que o amor que a gente sente por cada um deles é completamente diferente, mas o amor que eu ainda tenho pelo meu primeiro cachorro (que, inclusive, dorme tranquilo ao meu lado) transbordou para uma conexão, como se fossemos colocados nesse mundo em função de cuidar um do outro.
“o cão é o melhor amigo do homem”
aliás… de onde vem essa ideia?
a frase por si própria foi dita pelo advogado George Graham Vest durante o julgamento da morte de um cão chamado Old Drum (Velho Tambor), considerado o melhor cão de caça de um fazendeiro da região de Warrensburg, no ano de 1870 (a situação ganhou um filme anos depois!). já a relação entre homem e cachorro é estimada em mais de 40 mil anos atrás, segundo dados científicos, a partir da domesticação de lobos.
a linhagem dos cães data de 9 milhões de anos com os lobos coiotes e chacais, parentes do eucyon (“cão verdadeiro”): um canino que media em média 1m e pesava 9kg. em relação ao temperamento, não eram tão dóceis como os de hoje, até porque nós temos cães de companhia, não de caça, por exemplo. claro que algumas raças são mais nervosas, mas é uma questão de genética ou da criação.
“Eumeu! Que estranho cão é esse na estrumeira! Que belas linhas!
Mas já não posso saber se era tão rápido na corrida quanto parece belo.
Ou talvez não passasse de um desses cães ao pé da mesa, de quem os reis
se ocupam nada mais que para exibi-los?”
esse trecho veio da Odisseia de Homero, quando Odisseu pergunta à Eumeu sobre o cão Argos e a sua “utilidade”, quando questiona se é veloz ou se é um cão de exibição. a odisseia é do século VIII (8) a.C. e os cachorros já estão presentes como personagens com enredo (Argos é o único que lembra de Odisseu quando ele volta após 20 anos da Guerra de Troia, simbolizando a memória canina e o seu amor além do tempo), mostrando a sensibilidade e os laços que podemos criar com um ser que se comunica da sua maneira, mas te ama incondicionalmente.
garotas + cães
um dos melhores momentos da minha vida foi em 2017, entre os meus 10-11 anos, meus pais me surpreenderam com uma cachorrinha de 2 meses. lembro exatamente daquele dia: nessa idade, eu tinha uns problemas de relacionamento com minhas colegas de sala e, naquele dia, eu estava bem chateada. quando chegamos (eu e meu pai) ao nosso andar do prédio, ele pediu para que eu entrasse com calma, mas, como eu não desconfiava da situação nem um pouco, achava que minha mãe tinha dado luz ao meu irmão (eu estava na era “irmã mais velha confusa e inconsciente”), então entrei com muito medo. assim que eu me deparo com uma bola de pelo pulando e feliz só em me ver, eu desmoronei: eu sabia que aquele serzinho me faria muito feliz e assim foi.
minha relação com a minha cachorra foi como a de duas irmãs crescendo juntas (literalmente passamos pela puberdade juntas), mas de uma forma diferente, porque eu cuidava dela com passeios e carinhos e, em troca, ela me cuidava com os “lambeijos” e a sua própria companhia. ela esteve lá quando arranquei meu último dente de leite, assim como esteve quando algo acontecia comigo na faculdade. ela sempre esteve comigo.
muito se fala sobre como os cachorros são os melhores amigos do homem e, de fato, eles são, mas pouco se fala da importância deles na vida de uma pessoa ainda na infância: aprendemos a lidar com as responsabilidades de outro ser vivo, temos uma companhia em casa e criamos memórias afetivas que futuramente são histórias para contar. especificamente para as garotas, os cães podem ser além disso, porque, para nós, tudo é mais sensível devido aos hormônios. então, ter um cachorro em momentos de sensibilidade, principalmente nas primeiras vezes que eles acontecem, faz com que uma ligação maior ainda se crie com o animal.
“a primeira vez sempre é mais marcante”
essa é uma frase comum em diversas situações, mas vamos aplicar aqui no nosso debate: “o primeiro cachorro sempre é o mais marcante”. vejo isso quando converso com a minha mãe sobre a vida dela e ela sempre relembra da primeiro cachorro dela e como ela foi importante para lidar com as mudanças da infância. até a paixão no olhar é diferenciada em comparação de quando ela fala dos outros que ela teve.
uma vez cheguei até a perguntar para ela qual foi o cachorro mais marcante na vida dela e, sem pensar, ela falou do primeiro cachorro, mas ela também falou que cada cachorro que ela já teve tem um significado diferente para ela. entretanto, claro, a primeira vez sempre é a mais marcante, certo?
e a dor quando eles se vão? eu não me sinto preparada nem para pensar nisso. como que segue em frente? eu não imagino uma vida sem a minha Nina. só de pensar, o choro já vem. só sei que meus dias seriam só de lembranças dela, dos laços bagunçados na cabeça e do cantinho favorito dela na casa, mas eles estão aqui para isso também, né? para nos ensinar a dor da perda. tanto que o primeiro contato de perda e luto que muitas pessoas têm acontece com a morte do primeiro animal de estimação.
enfim… uma garota e o seu cachorro. seu primeiro cachorro. o que seria dela sem o apoio silencioso e a alegria incessável de todos os dias ao abrir a porta? só mais uma garota. eu e minha filha para sempre! (talvez ela nem saiba disso)
minha Lilica, meu neném que cresceu comigo e me salvou diversas vezes de mim mesmo, ela era o amor da minha vida e vivo seu luto até hoje, ansiosa para o dia que encontrarei meu nenenzinho.
Tão lindo!! Ainda lembro com tanto carinho da minha Lara ❤️